top of page

Visão Sistémica: o excesso de zelo na criança especial (3º parte)


ree

Com base da psicoterapia das Constelações familiares, criada por Bert Hellinger, uma familia consegue manter-se funcional, se seguir as três ordens do amor: do pertencimento, da hierarquia e do equilibrio entre dar e receber.


Na primeira parte, foi referida a importância da aceitação da condição/ limitação da qual a criança é portadora. Sistemicamente é um requisito importante, para que a criança possa ter um lugar na família e verdadeiro sentimento de pertencimento do seu sistema familiar.


Na segunda parte foi explicado, com um certo cunho pessoal, que esse excesso de zelo, pode desencadear outros problemas familiares, quando não é respeitada a sua hierarquia. Ou seja, "quem entrou primeiro no sistema(familiar), tem precedência sobre quem entrou depois". A atenção colocada unicamente num filho, em detrimento dos restantes membros, gera desiquilibrios emocionais e conflitos no relacionamento entre pais e filhos e entre os irmãos.


E ainda, não menos importante, afeta a dinâmica dos pais, enquanto casal.

Trata-se de um tema igualmente sensível e complexo.


Como pais procuram cumprir o que se espera deles, que é dar a vida aos seus próprios filhos e suprir todas as suas necessidades. Quando existe uma criança com necessidades de cuidados especiais, acresce ainda mais essa responsabilidade. Estão a cumprir a terceira ordem do equilibrio: o que receberam dos seus pais, retribuem tudo aos filhos, sem esperar nada em troca.


Sistémicamente, os pais tendem em dãr mais amor, dedicação, cuidados e proteção ao filho que mais precisa. Não há mal nenhum nisso. É natural isso acontecer. Porém essa dedicação deve ser direccionada para que o filho desenvolva o máximo de competências possível, de forma a ser autónomo.


Mas quando caiem no excesso de cuidados, pode criar dependências.

Quando os filhos são articularmente frágeis, face às suas limitações, há a tendência para criar uma redoma protectora envolta deles, para que não sofram, ou não sejam magoados pelos outros... Há por vezes uma certa dificuldade, por parte dos pais em perceber qual o limite, até onde podem ir , no suprimento dessas necessidades proteccionistas, especialmente em relação ao mundo externo...


Estimula na criança a crença de que não é seguro viver lá fora, por causa da condição/ limitação que têm. Sem quererem, em vez de a aproximar às pessoas, estão a criar um muro e dificultam a inclusão social.


Por outro lado, quando os pais fazem tudo pela criança, passa para ela a crença silenciosa, de que nunca vai conseguir fazer nada na sozinha. Vai captar e interiorizar essa crença através de palavras ditas, de gestos e do modo como os pais orientam as suas tarefas do dia a dia.


Por exemplo, no caso de serem portadoras de Espetro de Autismo, algumas crianças têm a motricidade fina pouco desenvolvida. Torna-se dificil fazer tarefas simples, como apertar e desapertar um botão da camisa. Para "facilitar"e ser mais rápido, há a tendência os pais as vestir ,de modo a apertar os botões da roupa. Na realidade, não estão a ajudar a criança, fazendo tudo por ela. Estão a retirar-lhe a oportunidade de aprender, de treinar e de realizar até ao fim, uma tarefa. Levam a acreditar, que nunca vão conseguir cuidar de si próprios, sem ajuda...


Cria-se uma dinâmica de dependência pais-filhos, quando o desejável é dar-lhe todas as oportunidades, para a aprenderem a ter o máximo de autonomia possível. Para isso é preciso, tempo, carinho, paciência e muita criatividade para aplicar estratégias diferentes, num espírito de tentativa- erro. Até acertar!


A dependência gera sobrecarga na familia: primeiro nos pais, depois nos irmãos, caso tenha, e depois na sociedade, quando essas crianças se tornam adultas.

É preciso romper a ideia de que ser mãe galinha é bom. Uma boa mãe/ pai não é aquele que faz tudo para que o filho fique dependente, pelo contrário. Quando deixarem de ser precisos, como pais, significa que o seu papel foi cumprido. E acredito que seja esse o maior desejo de todos os pais.Que os filhos consigam sair do ninho e voar para o mundo.


Como casal, já envolve outras questões ainda mais delicadas, quando são confrontados com a terceira ordem do amor. Que diz respeito ao equilibrio, entre dar e receber. A relação conjugal para criar balanço e alavancar , tal como o baloiço, precisa que ambos dediquem a mesma quantidade de energia e de amor, diariamente. É preciso doar e receber amor, na mesma medida. Nem a mais, nem menos. Só assim pode haver paz e harmonia na relação e no ambiente familiar.


Portanto o foco e atenção de ambos na relação é fundamental e prioritário. De modo que o amor de ambos possa ser transmitido inteiro para os filhos, como base edificante do sistema familiar. Quando o casal funciona bem, todas as dificuldades vividas em familia são muito mais fáceis de serem superadas, especialmente quando existem filhos especiais.


Tendo por base uma familia verdadeiramente unida em amor, torna-se fácil o envolvimento e empenho de todos, para ajudar o elemento especial da familia a superar as suas adversidades.


Quando isso não acontece, o que fazer, para mudar?

Caso a relação em casal tenha problemas e não funcione bem, há que analisar para onde recai o olhar e o foco de ambos.

Se recaiem apenas nos filhos, deixando para trás a relação conjugal.

Se um dá tudo pela relação e pelos filhos e o outro não dá nada.

Se um foca apenas na relação e o outro nos filhos...


Tudo acaba por ser pesado na balança. E a vida mostra esses desiquilibrios. Se não fizer nada para mudar essa dinâmica, a relação é condenada a parar e a perecer...Arrastando a familia, com ela...


Deixo estas questões em aberto para refletir: em que ponto se encontra a sua relação familiar. Tomar consciência disso é o primeiro passo para procurar colocar em ação as mudanças que quer fazer para melhorar o seu relacionamento conjugal e familiar.


Será desenvolvida essa temática,na quarta e última parte deste artigo.


Grata pela leitura!

Caso tenha interesse em marcar uma sessão comigo,

esteja à vontade para o fazer, de acordo com a minha disponibilidade: 926 226 022

Pode ler ou reler a primeira parte deste artigo





Comments


SUSANA FALHAS* TERAPEUTA SISTÉMICA E FAMILIAR

WhatsApp 926 226 022

  • Instagram
  • Facebook

©2022 por Susana Falhas . Viseu
Site criado com Wix.com

bottom of page