Visão sistémica para o excesso de zelo na criança especial ( 2ª parte)
- Susana Isabel
- 24 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jan. de 2020

O meu filho, é portador de Perturbação de Espectro Autismo. Como mãe ,tinha medo do futuro, da possibilidade de vir a crescer sem competências para ter uma vida minimamente autónoma. Esse medo acompanhou-me, assim que chegou o diagnóstico. Procurei o melhor para contrariar essa possibilidade. Aos 4 anos teve terapia ABA semi- intensiva 20horas semanais, durante 1ano e meio , com as psicólogas Nicole Dias, Célia Guimarães e à Alexandra Cardoso. Mais tarde tive orientação parental para eu aplicar ABA , com a psicóloga Carla Martins do My Kid Ups, durante 1 ano e meio. Fez toda a diferença , no comportamento dele, é certo. Agora com 12 anos, sente-se um impacto positivo enorme desse trabalho. Foi um investimento, que valeu todo o esforço e dedicação. E não me arrependo disso.
No entanto não tem sido um mar de rosas.
Ao longo de cerca de 6 anos dediquei-me inteiramente ao meu filho mais novo. Deixei a minha vida profissional e pessoal para segundo plano. Depositei toda a minha energia nesta causa, até não poder mais...Tive que parar , com as terapias que eu própria lhe aplicava. Estava esgotada, não conseguia fazer mais esse trabalho, nem tão pouco conseguia dar conta de tudo o resto , das tarefas normais da casa, da atenção merecida à familia.
Doeu imenso parar. Parecia que tinha falhado. Sentia-me impotente e culpada, por não conseguir dar mais de mim... Tinha dado tudo, esquecendo de mim e de tudo o resto.
Estava obcecada na luta contra o Autismo. E essa luta esgotou-me.
Bati no fundo do poço e a única forma de sair dele, era parar e dar tempo para mim!
Esta era a verdade. Só mais tarde compreendi isso, de uma forma mais profunda.
Olhando sistémicamente para esse excesso de zelo, desencadeou outros desiquilibrios na minha familia, no que diz respeito à ordem da hierarquia. Segundo a psicoterapia de Bert Hellinger, existe na familia uma determinada ordem que deve ser respeitada. Na medida em "quem entrou primeiro no sistema(familiar), tem precedência sobre quem entrou depois". O que significa que antes de ser mãe, era esposa e mulher. Neste caso requeria dar atenção primeiro a mim, às minhas necessidades, depois ao marido e só depois aos filhos, primeiro ao mais velho, depois ao mais novo.
Essa " corrente" de atenção e de amor foi desrespeitada, ao monopolizar toda a atenção para o fillho mais novo. Neste movimento, estava inconscientemente a excluir-me e os restantes membros da familia. Vedando-os o direito de receber a atenção merecida e a possibilidade de se envolverem na missão de resgate do autismo.
Esse olhar direccionado apenas para o filho com problemas, neste caso o mais novo, gerou um grande emaranhamento na familia.
É algo que acontece com muita frequência, validada pela crença popular em que uma boa mãe é aquela que coloca sempre em primeiro lugar as necessidades dos filhos, acima de tudo o resto.
Como consequência, sentia muitas vezes falta de apoio e de envolvimento do pai e do irmão, nesta tarefa. Com o estudo das Constelações familiares, compreendi que era eu que os afastava. O movimento "exclusivo" entre mãe e filho, deixava pouco espaço para que o pai e o filho mais velho podessem envolver-se. Perante a minha falta de atenção para com eles, não tinham como retribuir a atenção ao membro mais novo. Gerando neles uma certa indiferência na dinâmica familiar , da qual não tinham lugar.
Por esse motivo eu, e tantas mães como eu, acabamos por levar a cabo uma "luta" sozinhas...carregando todas as responsabilidades, como se fosse a nossa cruz...cansadas e esgotadas... acabamos a reclamar que não temos apoio, mas também não fazemos por o receber.
Ignorada essa ordem a longo prazo pode gerar na familia muitos conflitos e problemas de saúde ( ansiedade, stresse , depressão).
É possível mudar essa dinâmica? Sim. O primeiro passo é tomar consciência , de que se passa algo menos bem na sua familia, que precisa de ser melhorado.
Como ? Fazendo uma constelação familiar permite compreender o que está por trás dos problemas e perceber quais os movimento que deve colocar em ação para os corrigir .
No meu caso, está a ser um grande desafio, colocar em prática os movimentos necessários, Compreendi que o melhor que eu posso fazer é dar o meu amor, de uma forma equitativa e equilibrada, respeitando sempre a ordem de chegada. É a chave para que todos possam sentir-se valorizados e acolhidos, para assim ocuparem o seu papel na familia.
Existe ainda uma terceira ordem de amor, que diz respeito ao dar e receber. O excesso de zelo nos cuidados de uma criança que pode gerar conflitos internos na familia e até custar o fim de um casamento. Saiba porquê no próximo artigo.
Espero que esta minha reflexão o tenha ajudado de alguma forma .
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Caso sinta que precisa fazer uma constelação familiar,
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Gratidão
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