Autismo...
- Susana Isabel
- 19 de dez. de 2019
- 5 min de leitura
A palavra Autismo ficou gravada no meu coração, no dia em que fui buscar o meu filho ao jardim de infância do Viso.
Tinha entrado para lá, fazia 2 semanas. No fundo já sabia que o meu filho tinha algo diferente, mas sempre pensei que seria por falta de convivio com outras crianças...
Da boca da educadora de infância saiu a palavra AUTISMO, que parece ter abalado todo o meu ser, num segundo .
Foi com a primeira educadora do meu filho que comecei a dar os passos, por um caminho, até aqui desconhecido, em busca de conhecimento profundo, sobre tudo o que palavra Autismo significava e implicava para a nossa dinâmica familiar...
Pode carregar com ela , um rol de limitações, de impossibilidades e de crenças, muito enraizado nas conversas que fui tendo com algumas mães, pais, médicos, professores e técnicos, que assim acreditavam...como algo que iria definir a realidade, para sempre.
Mas o meu coração sempre me dizia para acreditar diferente. Que o "rótulo" serviria apenas como ponto de partida, para quebrar essa crença limitante .A minha rota estava a ser traçada para ir para além das crenças, em busca de possibilidades infinitas.
Pelo caminho encontrei pessoas excelentes, dispostas a fazer o melhor que podiam e sabiam para ajudar o meu filho e a minha familia.
Ao longo destes 9 anos, muitas lágrimas correram, mas também muitas, muitas vitórias!
Dedico essas vitórias à minha família, a todos os professores, educadores, terapeutas (ABA/ da fala), médicos, pais, psicólogos, auxiliares que se envolveram e contribuiem para a felicidade do meu filho ( alguns dos quais identificados, mas muitos são para além dessa lista).
E principalmente ao meu querido filho Júlio, que é o meu maior professor/ mestre!
Percebi que não bastava apenas trabalhar o meu filho, com foco nos problemas comportamentais, e cognitivos que o Autismo lhe causava. Isso era apenas 50% do trabalho.
Havia outra parte, que também precisava ser trabalhada e olhada. Que passavam pelas emoções e dores reativas que se produziram em mim, bem como em toda a minha família.
Inicialmente senti uma grande lacuna...O foco na recuperação do meu filho, fazia com que esquecesse de mim...Acabando por me remeter para último lugar da minha lista de prioridades.( Tal como ainda acontece em muitas familias, que passam pelas mesmas provações).
Eu senti que tinha que ir à procura de algo que me ajudassem a ultrapassar as minhas dores e a encontrar outra forma de estar e de ser na vida.
E no meio de tanta dor e incerteza, uma coisa sabia:
Que não ia ficar parada, muito menos conformada. Iria fazer tudo , mas mesmo tudo para olhar bem de frente para o desafio que tinha em mãos.
Até ao dia em que esgotei , toda a minha energia e acabei, temporariamente, no fundo do poço...E percebi, que tinha que mudar.
Este foi o ponto de viragem para uma viagem interna, para ir mais além do conhecido e do que fica por explicar, aos olhos da ciência.Tem sido um longo caminho, de reflexão profunda, com muitas perguntas lançadas no vazio...
Fui em busca de conhecimentos e de ferramentas que me apoiassem, de alguma forma. Encontrei na terapia Reiki, nas massagens e na meditação o equilibrio emocional, mental e espiritual que precisava. Pois compreendi que o meu filho não estaria bem, enquanto eu não saisse do "fundo do poço". Vivia em profunda ansiedade, depressão e tristeza, por me sentir impotente na resolução de tantos problemas comportamentais que o meu filho manifestava. Percebi, que ele apenas espelhava o meu estado de espírito, bem como de toda familia com quem tinha contacto.
À medida que trabalhava em mim, o meu filho ficava cada vez mais calmo e sereno. Mas não deixei de procurar. Continuei a aprofundar os conhecimentos adquiridos, transfomando-me numa profissional na área. Incorporei outras ferramentas, que me ajudaram a compreender muita coisa que vivia na minha vida, a todos os níveis.
A terapia de som com Taças tibetanas ajudou a acalmar toda a familia. Cheguei a fazer concertos com taças tibetanas para a familia, que de algum modo ajudaram a encarar a vida de outra forma, em geral.
O que me surpreendia era o próprio Júlio pedir para lhe tocar as taças, diariamente. Algo que significava muito para mim, pois ele tinha uma grande dificuldade em expressar os seus desejos. O som e a vibração transmitiam-lhe a serenidade, a calma e a concentração que precisava, sendo um menino, bastante hiperativo (chegava a chamar-lhe de piolho elétrico)... Nitidamente acalmou-o muito ao longo dos últimos 4 anos, e tenho a consciência, que se deveu também às taças tibetanas.
Sempre com o foco na busca de respostas, procurei outras terapias alternativas.
Quando vieram parar à minha vida as constelações familiares ,tornou-se definitivamente, a minha ferramenta preferida. Adotei-a pessoalmente e profissionalmente. Tém sido uma importante alavanca na minha vida. Veio preencher o tal vazio, que a ciência convencional não consegue ainda explicar. Porque as respostas que preciso vêm ter comigo, com uma clareza profunda e impactante.
O Amor é o principal motor que traz à luz questões dos nossos ancestrais que precisam de ser vistos e libertados do sistema familiar. E a beleza disso está na sua simplicidade, em que basta uma pessoa da familia olhar para as questões, para libertar todas as pessoas envolvidas. Mostra-nos o quanto estamos todos ligados às nossas raizes e precisamos honrar e integrar, em nós, toda a história vivida por todos os nossos antepassados.
As constelaões que tenho feito, permitiu desenvolver em mim uma compaixão profunda para com a minha familia de origem. E trouxe a paz, a libertação e a gratidão profunda relativamente à palavra Autismo que o meu filho escolheu ser portador.
Tudo isso e muito mais, porque criei foco na busca das respostas .
Aprendi a amar e a aceitar incondicionalmente tudo o que ele é.
A amar e aceitar a capa AUTISMO" que o Júlio escolheu vestir. E a conhecer a sua verdadeira essência, contida nessa capa.
Aprendi que a "capa" nada mais é do que o seu porto seguro para não sentir a dor que sente das pessoas que lhe transmitem pena, ignorancia, desamor, exclusão, preconceitos, entre outros sentimentos menos nobres...
Só o amor, a alegria, a compaixão, a compreensão, tolerância pela diferença fazem com que o Júlio não se isole nessa capa e tenha vontade de viver e de conviver com quem o rodeia.
E tal como o Júlio há tantos outros meninos e meninas a socorrerem a esse refugio, cada vez mais ( e tudo começa com o nucleo familiar).
Se tem à sua beira alguém com essa capa, permita-se olhar para esse ser de outra forma e transforme-se numa pessoa melhor.
Hoje e sempre digo que : O Júlio foi o melhor presente que a vida me deu. Sou profundamente grata por isso. Com ele transformei-me no melhor ser humano que posso ser, a cada dia.
Crescemos juntos, com o objectivo de sermos felizes e incluidos na familia, agora.
Susana Falhas
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